Algumas historias do bairro Humaitá

Por João Conrado Niemeyer de Lavôr

A Chegada da Corte Portuguesa no Humaitá

Quando, em 1808, a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro a cidade praticamente estava restrita ao Morro do Castelo, hoje não mais existente, e ao entorno dele. Aos poucos o desenvolvimento foi chegando a zona sul. É bem verdade que no período dos vice-reis existiam dois caminhos para o bairro de Botafogo que abrangia o que é hoje Humaitá: o Caminho Velho e o Novo que no decorrer dos anos passaram a ser chamados de Rua Senador Vergueiro e Marquês de Abrantes. Devemos destacar que na esquina da última com a Praia de Botafogo existiu bela residência pertencente a Carlota Joaquina, esposa do Príncipe Regente D. João, posteriormente D. João VI, de quem estava separada. Ele residia no bairro de São Cristóvão, o que é hoje o Museu da Quinta da Boa Vista.

Devido á escolha de Carlota Joaquina, o bairro passou a ter muita importância e ela podia ser vista vestindo calças compridas, fato nunca visto na época, se dirigindo inúmeras vezes montada a cavalo em direção a Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, o imóvel pertenceu a D. Pedro I, sendo ocupado nesta época pelo naturalista alemão George Langsdorf. Em 1842, após a morte do imperador, a residência foi adquirida em leilão pelo Marquês de Abrantes, onde residiu com sua esposa Ana Carolina, filha do Barão de Meriti, que com o falecimento de seu marido contraiu núpcias com Joaquim Antonio de Araujo e Silva, o Barão do Catete.

A antiga garagem dos bondes deu lugar a Cobal.

A antiga garagem dos bondes, hoje a Cobal.

Vista aérea do Humaitá na década de 1960, onde ainda se vê a favela da Macedo Sobrinho.

Vista aérea do Humaitá na década de 1960, onde ainda se vê a favela, conhecida como da Macedo Sobrinho e que chegava a rua Humaitá.

Ruas e Patrimônios

O acesso para esta região foi mais facilitado por Pereira Passos, prefeito da cidade, com a abertura da Avenida Oswaldo Cruz, a fim de que não houvesse necessidade de contornar o Morro da Viúva, hoje Avenida Rui Barbosa.

O bairro de Botafogo que se estendia até as imediações do viaduto de acesso ao túnel Rebouças, abrangendo o atual Humaitá, passou a ter residências. Algumas eram verdadeiras chácaras, pertencentes as famílias, bem diferente daquele que entre 1850 e 1860 aparecia nos mapas apenas com quinze ruas, entre outras a São Clemente, Dona Mariana, São João Batista, Real Grandeza, Marquês e a Novo de São Joaquim, hoje Voluntários da Pátria. A São Clemente teve origem em um caminho aberto na chácara do Vigário Geral Dr. Clemente José de Matos; outras surgiram com seu desdobramento, como a da olaria, da família Leão e através dela se chegava a Lagoa conhecida como Rodrigo de Freitas, passando pela fortaleza de São Clemente, aparecendo em alguns mapas como Piaçava, lembrando um túnel, localizada na hoje Rua Humaitá n°229. Nessa época os moradores de Botafogo davam o nome a este local de Aldeia Inglesa por ser o preferido dos ingleses que nela habitavam. Um dos mais ilustres foi Charles Darwin, naturalista e biólogo inglês, morador da chácara de José Ferreira da Rocha, bem próxima do Largo dos Leões e do Hotel Allen, que lá existia. Segundo ele, o silêncio era tão intenso que de suas janelas era possível ouvir o bater das asas das borboletas.

Na primeira metade do século XIX os mais ricos de Botafogo eram Joaquim Batista Marques Leão e seus irmãos, conhecidos por Leões, proprietários das terras desmembradas do Padre Clemente, nas quais eles abriram três ruas e um largo: a Nova de São Joaquim, a Sergipe, a Marques e o Largo dos Leões. A primeira passou a se chamar Voluntários da Pátria e quando abriram a segunda era para que fosse Sergipe, no entanto passou a ser Real Grandeza.

O Largo dos Leões e o Clube Botafogo

Segundo o professor Milton Teixeira, o Largo dos Leões tinha decorando-o dois leões bem na entrada da Rua Alfredo Chaves, na época considerada vila, fechada por um portão; quanto a estas esculturas não se tem notícia. Existem hoje duas outras, urna representa um busto de mulher em cima de urna colina de granito cujos dizeres foram arrancados. Conforme informações seriam de Margarida Lopes de Almeida, poeta ou poetisa: é a estátua Harmonia de autoria de Jan Jacques Pradier, preparada na principal fundição francesa do Val d’Osne representando uma musa sentada sobre um cântaro, tendo às mãos uma lira.

A canalização das águas do Rio Cabeça, no Jardim Botânico, possibilitou a instalação em 1853 de várias bicas públicas nos bairros de Botafogo e Humaitá, entretanto esta escultura só veio para o Largo dos Leões no século XX, trazida do reservatório do Guandu, onde era chamada de Bica da Deusa da Música. Lamentavelmente está desativada, necessitando que reconstruam o tanque de forma circular outrora existente e recomponham as características da coluna. Para que os vândalos não destruam nem usem a água, há necessidade de um gradil protetor.

O Largo dos Leões que passou a ter este nome em 1853, por decisão do Ministro Luis Pereira do Couto Ferraz, com autorização do imperador. Tinha início no fim da Rua São Clemente entre as Ruas Conde de Irajá e Humaitá, porém a lei 692, de 24 de Dezembro de 1964 restabeleceu o nome tradicional. Seu aspecto paisagístico, no inicio do século XX era diferente, pois quem se dirigia para a Lagoa, via seu lado direito gramado e as palmeiras que lá estão até hoje, neste mesmo lado e em todo o largo, no qual havia apenas duas residências em estilo francês e que ainda resistem a especulação imobiliária: as de números 70, onde funcionava o Instituto Superior de Educação Pró- Saber e a de número 80. Paralelamente a Rua Alfredo Chaves existia uma viela de muros e calçamento de pedras ligando o largo a Rua Icatu, hoje absorvida pelo prédio de número 8 servindo de garagem. No lado oposto do largo, na esquina da Rua Conde de Irajá, funcionou o Armazém Gaio Marti, tendo como vizinhos uma quitanda, um botequim e um açougue. Neste mesmo lado, as quartas-feiras se instalava a feira livre que descia pela e travessa Marques, hoje rua. Atualmente e no mesmo dia ela funciona na rua Maria Eugênia.

Quando, em 1808, a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro a cidade praticamente estava restrita ao Morro do Castelo, hoje não mais existente, e ao entorno dele. Aos poucos o desenvolvimento foi chegando a zona sul. É bem verdade que no período dos vice-reis existiam dois caminhos para o bairro de Botafogo que abrangia o que é hoje Humaitá: o Caminho Velho e o Novo que no decorrer dos anos passaram a ser chamados de Rua Senador Vergueiro e Marquês de Abrantes. Devemos destacar que na esquina da última com a Praia de Botafogo existiu bela residência pertencente a Carlota Joaquina, esposa do Príncipe Regente D. João, posteriormente D. João VI, de quem estava separada. Ele residia no bairro de São Cristóvão, o que é hoje o Museu da Quinta da Boa Vista.

Devido á escolha de Carlota Joaquina, o bairro passou a ter muita importância e ela podia ser vista vestindo calças compridas, fato nunca visto na época, se dirigindo inúmeras vezes montada a cavalo em direção a Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, o imóvel pertenceu a D. Pedro I, sendo ocupado nesta época pelo naturalista alemão George Langsdorf. Em 1842, após a morte do imperador, a residência foi adquirida em leilão pelo Marquês de Abrantes, onde residiu com sua esposa Ana Carolina, filha do Barão de Meriti, que com o falecimento de seu marido contraiu núpcias com Joaquim Antonio de Araujo e Silva, o Barão do Catete.

Largo dos Leões no início do século XX.

Largo dos Leões no início do século XX.

A Cobal e o Corpo de Bombeiros

Proporcionando segurança não apenas aos moradores do bairro, no Largo do Humaitá, antes conhecido como Largo dos Leões, se encontra o quartel do Corpo de Bombeiros, diante do qual o bonde Largo dos Leões fazia a volta, retomando para a cidade.

Na Rua Davi Campista residiram o ex presidente Médici, os generais Juárez Távora e Fragoso Pires. Várias outras pessoas poderiam ser citadas, formando verdadeiro rosário. O bairro, além das ruas mencionadas, é composto também pela Icatu, Sarapui, Mario de Andrade Mario Pederneira, Cesário Alvim, Desembargador Burle, João Afonso, Macedo Sobrinho, Viúva Lacerda, onde existiu a igrejinha de São Clemente, urna das mais antigas da cidade, demolida em 1963, Vitório da Costa, Miguel Pereira, embaixador Morgan, Diógenes Sampaio, Aiuru, logicamente parte da Voluntários da Pátria e Rua Humaitá, sendo esta ligada pela Engenheiro Marques Porto à Lagoa. Parte da Macedo Sobrinho já citada é cortada pela Visconde Silva.

A região possui os colégios Sá Pereira, Abílio Borges, pertencente á Prefeitura instalado na ex-garagem de ônibus da Light, colégios Antonio Vieira, Pedro II, Paula Barros e Andrews. Seis agências bancárias demonstram a pujança do Bairro. O principal centro comercial, a Cobal, tem duas entradas, uma fronteiriça à Rua Capitão Salomão. A Cobal, antiga garagem de bondes, possui em seu interior boxes de legumes, frutas, açougue, peixaria, lojas de decoração e de modas, doces, supermercado, e restaurantes. Nela funcionou, fechada a garagem de bondes, um circo. Inúmeros outros negócios existiam na região, tais como: chácara, antiquário, consultório dentário e até um seminário de nome Aloisiano, todos eles na ladeira do Humaitá, substituídos por prédios com agências bancárias, correios e academia de ginástica. O bairro ainda possui clínicas e casas de saúde, sendo as mais famosas entre as últimas a Casa de Saúde São José e o Hospital Aloísio de Castro.

Apesar da descaracterização arquitetônica que o Rio vem sofrendo, o bairro Humaitá ainda conta com várias residências e bela arborização, contribuindo deste modo para o embelezamento da cidade.

Vista da rua Humaitá, em frente ao Corpo de Bombeiros, 1959.

Vista da rua Humaitá, em frente ao Corpo de Bombeiros, 1959.